Imagina nascer, crescer e viver toda uma vida sendo bombardeada com mensagens violentas sobre o seu cabelo, a sua aparência, os seus traços, a sua forma de ser e tudo o que você representa.
Na série “Violências Diárias” pretendo retratar um pouco dessas vivências.
Desde pequena que a minha mãe sempre cuidou do meu cabelo. Era ela quem me fazia as tranças e embora eu me lembre de muitas vezes sentir dor, de um modo geral gostava desses momentos em que ela tratava de mim, tocava o meu cabelo, me penteava e me acariciava.
Com o tempo, fui querendo experimentar mais e aí comecei a frequentar salões de beleza. Acho que foi no início da adolescência, eu gostava de tranças mais elaboradas, muitas missangas e a ilusão de cabelo comprido (leia-se liso).
Deve ter sido nessa altura que passei a prestar mais atenção nos cabelos das outras pessoas e a querer o que elas tinham. O cabelo que voa, o cabelo que pode ser molhado sem nenhum problema, o cabelo que não precisa de muitas horas no salão de beleza, o cabelo que é perfeito tal como é, o cabelo que existe sem precisar de manipulações.
Então lá fui eu entregar-me de corpo e alma aos padrões eurocêntricos. Tentei e tentei, mas o meu teimoso cabelo sempre crescia da mesma forma carapinhada. Eram mais horas no salão de beleza. Mais cuidados com o cabelo. Mais precauções. Mais restrições.
Depois desse período de subjugação da minha raiz e dos meus fios aos agressivos tratamentos químicos, decidi deixar o meu cabelo simplesmente ser. Simplesmente ser, tal como ele é e sempre foi.
Mas não deixo de observar, ouvir e notar como essa mesma pressão persiste até hoje. Está em todo o lado: nos nossos salões, nos pentes que nos são vendidos, nas imagens dos produtos capilares disponíveis, nas capas de revistas, na Televisão e até nas pessoas que mais admiramos.
Marandza, puta, vadia, interesseira… santa, púdica, convencida. No fim do dia, apenas mulher.
Essas classificações que nos dividem, nos categorizam e separam como as boas pra fuder e as boas pra casar. Isso é apenas uma manifestação da moralidade machista-patriarcal que tenta, desde o momento em que nascemos, até o momento da nossa morte, controlar os nossos corpos.
Afinal de contas quem nos define? Quem decide quem eu sou?
Se sou violada e exponho o meu violador, sou acusada de ser promíscua, de provocar, sou culpabilizada por deixar um criminoso cometer um crime! Se me assumo como um ser sexual que busca prazer de forma consensual e consciente, sou chamada de puta, oferecida, marandza.
“Marandza”: pessoa que gosta; gostadeira.. Gosto sim. Sou marandza. Adoro abraços, beijos, presentes, elogios. Sou marandza. Gosto de livros, de um bom copo, uma boa festa.
E gosto de sexo também. Gosto de buscar prazer. Gosto de sentir o meu corpo ferver em contacto com outro corpo. Gosto do suor misturado, da saliva, dos gemidos, dos orgasmos.
Gosto e assumo o meu direito de dizer sim. Sim ao sexo, sim ao prazer, sim à minha liberdade sexual, sim ao meu direito de decidir sobre o meu corpo, sim, sim sim!
Ou “A história de como descobrir a bruxa que há dentro de nós”.
O filme “Eu não sou uma bruxa“, da realizadora zambiana Rungano Nyoni, traz-nos a história de uma menina que dá por si assumindo-se como bruxa num campo de bruxas.
Shula é apenas uma tímida criança que, com provas circunstanciais é acusada de bruxaria pelos habitantes da vila por onde vagueia, sozinha. As autoridades locais são chamadas a intervir e Shula é rapidamente enviada para um campo de bruxas, onde é acolhida por mulheres bem mais velhas, que a recebem de braços abertos. No fim da festa de boas-vindas ela é confrontada com um dilema: ou aceita ser bruxa e ficar no campo ou rejeita a bruxaria e transforma-se numa cabra.
Sem ferramentas para provar a sua inocência nem para os outros e nem para si, a pequena Shula aceita.
No campo, as mulheres são obrigadas a cultivar a terra e a posar para turistas que as visitam. Shula recebe delas o amor maternal que não tem em mais nenhum local.
Por algum tempo as coisas parecem correr bem.
O filme é inspirado nos campos de bruxas da Zâmbia e Gana. Fonte: Independent
Num mundo em que o Cristianismo se diz dono da verdade, as formas de expressão de espiritualidade tradicionalmente africanas são demonizadas e é neste contexto em que se cria estigma e rejeição em relação a pessoas que são vistas como bruxas.
A disputa pela fé é incessante.
Numa caricata cena, Shula é colocada como juíza numa espécie de tribunal local em que um velho homem procura o ladrão do seu dinheiro. Todos os homens jovens são tidos como suspeitos e dizem-se inocentes. Shula tem de identificar o ladrão, então pede ao oficial do Governo que a acompanha que ligue a uma das mulheres no campo.
Esta mulher, uma das avós, diz-lhe para escolher o homem que for mais escuro e mais nervoso. E, curiosamente, confirma-se que esse é de facto o ladrão.
Sorte? Coincidência? Bruxaria?
Ninguém sabe.
Os poderes de Shula são requisitados por todo o lado e ela é vista como a galinha de ovos de ouro, já que a sua bruxaria é tão poderosa.
Ela será bruxa porque anda sempre sozinha? Será bruxa por não se fazer ouvir?
Que caminhos terão levado aquelas velhas para o campo de bruxas? Por que são as bruxas tão perigosas?
Shula vai descobrir tudo isto à medida que o mundo se vai revelando a si. Com a sua infantil e limitada visão do que acontece ao seu redor, as alegrias e tristezas de carregar consigo essa denominação vão mudar tudo para si.
No filme há constantes dicotomias em disputa.
A mais óbvia é a relação que a comunidade em geral tem com a bruxaria. Mesmo os mais cépticos vêem-se incomodados com a possibilidade de haver de facto esse poder.
Se por um lado não querem as bruxas por perto, por outro os habitantes recorrem às bruxas para resolver casos de roubos e outros mistérios.
Como não acreditar em bruxas num meio carregado de superstições?
E mais do que isso, como curar as bruxas do seu fatídico destino sem cometer bruxarias, lançando maldições contra elas?
Outra dicotomia é o Feminino e o Masculino.
A percepção é sempre como a mulher é a fonte de todo o mal. Ela é a causadora dos problemas da sociedade, e o homem, pelo contrário é visto como o dono incontestável da verdade.
A misoginia está em quase todo o lado, mas na sua manifestação mais gritante, vemos os bruxos a circularem livremente, inclusivamente providos de algum prestígio enquanto as mulheres bruxas são obrigadas a viver isoladas da sociedade. Um exemplo claro é o bruxo que aparece para comprovar o facto de Shula ser de facto uma bruxa.
Através do humor e sarcasmo, somos confrontados com vários tipos de opressão. Fonte: BFI
Entre o real e o fantástico, Rungano Nyoni descreve-nos tudo o que Shula sente na sua mudez sempre presente.
Uma criança bruxa que não pode circular livremente no mundo, mas que ao mesmo tempo é chamada para resolver problemas como a seca na sua região.
Uma criança bruxa que não vai à escola, mas que ouve os professores de longe e sonha com as brincadeiras ao recreio.
Uma criança obrigada a escolher entre ser uma bruxa ou morrer como uma cabra.
É importante criarmos um diálogo entre as várias experiências de “negritude” e de racismo. Alguém como eu, que sempre cresceu num ambiente maioritariamente negro, vive o racismo de uma forma diferente daquela pessoa que cresce sendo uma minoria.
O próprio conceito de raça altera-se consoante o contexto. Eu em Moçambique não penso em mim como negra, não me vejo como tal diariamente, pois não sou obrigada a isso. Talvez se me sentir discriminada sejam mais provável que seja pelo facto de ser mulher e não pelo meu tom de pele.
O que isto significa é que eu percebo que as minhas reacções não são universais. As minhas emoções não são universais. As coisas que me causam comichão não são universais. Contudo, são e sempre serão válidas.
Não cabe a mais ninguém me dizer que o que eu estou a sentir é pouco ou ridículo. E isto é especialmente importante quando falamos em ofensas.
Como contadora de histórias tenho especial interesse em palavras. Acho fascinante como um conjunto de letras e sons conseguem transmitir tanto! A palavra, seja ela falada ou escrita, é de uma importância inestimável.
Palavras têm poder. Palavras carregam consigo uma História, um Passado. Há mil construções feitas de forma inconsciente que fazem as palavras o que são. Por detrás de cada palavra existe um valor, um legado, que vai para além da intenção de quem a proferiu.
Ilustração da evolução (racista) retirada do livro Anthropogenie (1874) de Haeckel. Fonte: Sala BioQuímica
Por isso é sempre importante perceber que, ofensas, ainda que não sejam intencionais, não deixam de ser ofensas.
A palavra “macaco” durante muito tempo foi usada para denegrir pessoas negras.
Para validar o tráfico humano e exploração da mão de obra de pessoas negras, cientistas chegaram a validar a ideia de que essas pessoas eram mais primitivas, mais aproximadas aos macacos e por isso, sub-humanas.
Como tal, a palavra “macaco”, especialmente no contexto escravagista (nas Américas), sempre esteve associada a algo sub-humano, para justificar os horrores a que eram submetidas as populações afrodescendentes.
“Ah! Mas isso foi há muito tempo! Já passou!”
É verdade. Foi há muito tempo. Mas não se apagam as dores e traumas de pessoas que durante anos foram – e ainda são – tratadas como inferiores, como uma espécia sub-humana.
Vejamos a experiência de uma pessoa negra a viver na Europa, na Ásia, nas Américas, etc. Até mesmo em África, os imigrantes africanos negros são os que fazem o trabalho mais precário e vivem em piores condições.
Então existe sim, hoje, agora, no tempo Presente, uma experiência de negritude, de racismo e essa experiência Presente não se pode desassociar da experiência Passada.
Não há muito tempo atrás, o jogador brasileiro Dani Alves foi alvo de um ataque racista em campo, em Espanha, quando lançaram uma banana para ele.
A banana foi uma clara referência a essa mesma ideia em como as pessoas negras são uma sub-espécie humana, mais parecida com macacos. O ataque teve tanta repercussão que vários jogadores e celebridades formaram um movimento (#SomosTodosMacacos), comendo bananas e tirando fotos em solidariedade ao jogador.
Se for preciso ir ainda mais atrás na História, falemos dos Zoológicos Humanos em que pessoas negras eram expostas como animais.
Foi há cerca de 60 anos. Há fotos por aí. Crianças, Mulheres, Homens, negros de todas as idades, com os seus corpos, as suas línguas, as suas roupas, o seu estilo de vida em exibição por serem considerado selvagens.
E essa exotificação das vidas negras não parou por aí. As pessoas negras eram usadas para experiências médicas e atracções de circos.
Mas muito disso foi apagado dos livros de História. E nós não falamos disso porque custa. Dói. É difícil. E como tal, fingimos que os acontecimentos não estão relacionados entre si.
Portanto, não me surpreende que muitos de nós, negros, se ofendam com uma certa recente campanha de uma certa marca. Também não me surpreende que muitos de nós, negros, não se ofendam com uma certa recente campanha de uma certa marca.
Mas, porra! Macacos me mordam, que algo está errado, isso está!
A célebre foto de Ricardo Rangel, o ‘Último Pão’ e a utopia da cidade perfeita.
Olhando assim parece um grupo de amigos, irmãos, em passeio, não fosse pelo uniforme e armas dos dois homens na foto.
A moça parece calma, olha em frente e caminha certa dos seus passos, com a cabeça erguida e exibe um colar de pérolas enrolado vezes sem conta no seu pescoço.
Foi em 1975, Ricardo Rangel estava lá quando aconteceu.
Foram cerca de 3000 cidadãos, recolhidos em Maputo, Beira Nampula e Chimoio os primeiros neste primeiro dia de uma operação que viu o seu fim apenas nos finais dos anos 80.
Era dia 3 Novembro quando o Daily News [Dar es Salaam] anunciou a detenção, pelo regime de Samora Machel, de milhares de moçambicanos acusados de vagabundagem. O destino? Centros de reeducação.
Foto: O Último Pão, Ricardo Rangel, 1975
É importante realçar que foram as mulheres, sobretudo, que sofreram com esta operação pois foi uma ferramenta para controlar a sua sexualidade. Parte desta história foi recontada por Licínio de Azevedo em ‘Virgem Margarida’.
Muitas prostitutas e mulheres solteiras mas com “filhos sem pai” (as chamadas “mães solteiras”) infelizmente morreram no caminho ou durante a sua estadia nesses centros, pelas pobres condições em que eram mantidas. Isto para não falar dos abusos físicos e emocionais a que eram submetidas, fosse pelos seus carcereiros ou transportadores.
As mulheres, especialmente das cidades, com as suas roupas, maquilhagem, saltos altos, e o seu sentido de independência forte entrava em choque com os ideais da época que acreditavam que a mulher rural, atarefada com os afazeres domésticos, fiel ao seu marido e aos seus filhos, era o protótipo.
Assim, quanto mais longe deste padrão, maior risco estas mulheres representavam ao regime pois poderiam “infestar” o país.
É difícil falar nos Centros de reeducação porque as feridas ainda estão abertas. Fonte: DW
Tendo como ponto de partida o puritanismo católico herdado do regime colonial Português, Moçambique independente tentou também separar os “cidadãos de bem” dos restantes.
E, como um bom regime socialista faria, fê-lo através do trabalho.
Nos centros de reeducação, os reeducandos eram responsáveis por lavrar a terra; construir a sua própria casa; cozinhar e aprender algum ofício de modo a poderem reintegrar a sociedade.
Aliada à estratégia dos Centros de Reeducação, implementou-se também a Operação Produção em 1983, com o intuito de garantir a subsistência de todo o país e aumentar a população em zonas desabitadas. Até aí, tudo bem.
No entanto a própria Operação Produção também se usou de “improdutivos” para arrancar, forçando pessoas a saírem dos meios urbanos (especialmente Maputo) para zonas rurais em outras províncias (especialmente para Niassa e Cabo Delgado) a fim de lá habitarem e produzirem.
Os “improdutivos” eram todos aqueles que, durante as rusgas, eram encontrados sem documentos de identificação e/ou não conseguissem provar que estudavam ou trabalhavam, ou seja, que eram úteis para o Estado.
“Vinte pessoas numa família e quem trabalha é uma pessoa só. E são adultas! A quantidade é grande que come.(…) De todas estas zonas vinha dantes o tomate, a couve, o repolho, a cebola, a batata, o arroz, o milho, o feijão, a mandioca, a alface, a banana, tudo aquilo que esta cidade consumia. É isto que vamos produzir!” – Samora Machel
Contudo, é importante realçar que enquanto os reeducandos – os que sobreviviam – que mostravam que tinham mudado o seu estilo de vida podiam voltar para casa, aqueles levados pela Operação Produção não podiam regressar à terra natal.
De tal forma que, muitas famílias até hoje vivem separadas. Muitas pessoas são tidas como mortas. Outras já apagaram da sua memória por completo aquilo que deixaram para trás e reconstruíram a sua vida das cinzas que restaram.
Estima-se que entre 50 a 100 mil pessoas tenham sido deportadas de Maputo para o meio rural durante a Operação Produção. Fonte: DW
Hoje em dia há um certo saudosismo ao recordar a pessoa e Presidente que foi Samora Machel, ignorando os erros que cometeu em nome das suas utopias.
Uma dessas utopias é a da “purificação das cidades”, evidenciada através dessas duas estratégias que em muito feriram cidadãos moçambicanos.
Não nos esqueçamos do “último pão”. Nessa foto vemos dois agentes de um regime altamente repressivo a prender uma mulher, levando-a sabe-se lá para onde. O que acontecerá com ela fica na nossa responsabilidade; se ela vive ou se ela morre na nossa memória, na nossa História.
A música pop africana tem estado a passar uma fase de ouro, com vários artistas a terem reconhecimento internacional fora daquilo que é a “world music”. No hip hop, na kizomba, no RnB e em vários outros estilos musicais, África começa a destacar-se.
Contudo, apesar do som distinto dos sons de hip hop e de kizomba vindos do nosso continente, comparados àqueles de outros locais do mundo, nos vídeos e nos estilos de vida promovidos nada difere.
A nossa criatividade parece não ir tão longe. A imagem da mulher negra nestes espaços continua a ser usada apenas para reforçar estereótipos.
Na cultura pop, o papel da mulher negra sempre foi muito marginal. Apesar as contribuições de mulheres fora do padrão como a Missy Elliott, a maioria das mulheres negras que vemos na indústria musical estão apenas como acessórios para o sucesso de outras pessoas.
São as suas bailarinas, coristas, maquilhadoras, coreógrafas, mas quase sempre o seu papel é apagado.
O legado feminista de Missy Elliott é subestimado criminalmente. Fonte: Dazed
Em África esta tendência começa a evidenciar-se. É comum nos vídeos das estrelas vermos as protagonistas sendo mulheres negras claras ou até mesmo brancas, com uma ou outra negra escura no plano de fundo ou geralmente hipersexualizada e exotificada ao extremo.
O padrão que estabelece como belo no feminino como as feições europeias e a pele clara está tão enraizado e é tão penetrante que não pode ser visto como mera coincidência. Fazendo uma pesquisa rápida pelo Youtube e observando os vídeos musicais de artistas africanos mais vistos rapidamente fica claro que não é uma questão pessoal, mas sim estrutural.
É uma manifestação do racismo e colorismo presentes na nossa sociedade.
Enquanto o racismo é a sobrevalorização de todos os aspectos e atributos da cultura branca (leia-se Ocidental), já o colorismo caracteriza-se pela discriminação de uma pessoa negra de acordo com a tonalidade da sua pele, privilegiando os tons mais claros e os traços associados às pessoas brancas (cabelo liso; nariz fino; etc).
O colorismo é um problema do qual já falei aquando da campanha “No Make Up” (Sem maquilhagem) da Alicia Keys. O colorismo manifesta-se, por exemplo, no excesso de manipulação das fotos das mulheres escuras em capas de revista para que fiquem mais claras e até no preterimento das mulheres negras pelas mulheres mestiças.
A pessoa de pele mais clara é tolerada pois aproxima-se mais à branquitude. E é por isso que o colorismo é resultado do racismo.
Os artistas africanos também são produto dessa mesma sociedade e como tal, muitas vezes, talvez até de forma implícita, sem se aperceberem perpetuam estes ideais de beleza eurocêntricos.
Tendo como referência outras figuras proeminentes, da Europa e sobretudo dos Estados Unidos da América, os artistas africanos inspiram-se na linguagem figurativa e no imaginário daquilo que é o sucesso e o que o sucesso representa para elaborar as suas próprias linhas de comunicação.
Desta forma, sem desafiar as produções da indústria que já são habituais, as mulheres no geral e em especial as negras, aparecem como objectos muitas vezes sem uma cara, somente em pedaços.
As mulheres negras são usadas como acessórios para validar a desejabilidade sexual dos artistas, mas não para representar pares românticos.
Não há dúvidas que tudo isto tem repercussões na auto-estima e na imagem que as próprias mulheres têm de si mesmas. Embora claro, não possamos depositar toda a responsabilidade na falta de representação na música, não podemos negar o lugar central que a música tem na cultura pop.
Quando os artistas mais famosos não valorizam as mulheres negras, nem mesmo em África, temos um problema. É um desperdício o papel central que tais figuras têm na construção de mentalidades e no seu papel como veículos e manifestações das crenças e ideias em torno da beleza e valor da mulher.
Onde estão as mulheres negras escuras em África? Fonte: This is Africa
É importante que mulheres que todas as proveniências e com experiências diversificadas se sintam validadas, e como tal mulheres brancas em relações interraciais também merecem algum espaço.
No entanto, com tão poucos espaços para ver e celebrar as mulheres negras, temos de exigir mais dos nossos artistas em África. Queremos dançar e cantar ao som de ritmos que não só nos enalteçam, mas enalteçam também a nossa imagem.
Queremos ver um novo protótipo de mulher negra, uma nova imagem de nós mesmas. Queremos quebrar esse padrão eurocêntrico.
A luta das mulheres pela soberania da própria sexualidade é constante.
Quando assumimos propriedade da nossa sexualidade e expressamo-la livremente, somos conotadas como vadias, desvalorizadas, contudo é esperado que o sejamos. É aquela velha coisa “Santa na rua. P*ta na cama”.
Somos socializadas para acreditar que devemos ser virgens e que nos devemos afastar de qualquer contacto sexual. No entanto, simultaneamente, nos é exigida uma performance sexual excepcional e sofremos pressão para dar prazer sempre.
Este dilema para as mulheres negras é ainda mais forte. A mulher negra é ao mesmo tempo a figura menos valorizada no que toca à beleza e desejabilidade, e é também aquela mais objectificada e com a sexualidade mais alienada.
O corpo feminino negro é hipersexualizado e por isso existe a ideia da disponibilidade e perversidade sexual inquestionável da mulher negra. Nesse sentido, o processo para que a soberania sobre a própria sexualidade seja retomada requer um esforço acrescido para incorporar a componente racial.
Saartjie Baartman foi uma mulher sul-africana traficada e explorada como atracção de circo no séc. XIX devido ao seu corpo
Tal como já tinha referido, aquando da polémica em torna da vitória de Semeneya nos Jogos Olímpicos, o padrão de mulher dominante define a Mulher Ideal como branca, cisgénero e heterossexual, de tamanho pequeno, com aspecto frágil e dócil. Como tal os traços naturais da Mulher Negra apresentam uma inconformidade aos critérios do Imperialismo Branco.
As feições do corpo da mulher negra são vistas como marcas de algo selvagem. Mas os mesmos lábios grandes e glúteos avantajados, numa mulher branca são desejáveis. Basta vermos como Kim Kardashian e a sua irmã Kylie Jenner fazem sucesso com alguns traços tradicionalmente negros.
O corpo da mulher negra está sempre na posição do “outro”, é exótico; diferente. E a mulher negra é proibida; pecaminosa, inadequada para matrimónio ou monogamia. Em países com forte legado esclavagista, como o caso do Brasil e dos EUA, é gritante o caso de homens negros bem sucedidos casados com mulheres brancas, ou no mínimo negras claras. Isso não pode ser coincidência. Não é uma questão de preferência pessoal, mas sim de discriminação sistemática.
No entanto, esses mesmos homens, usam-se do corpo da mulher negra para fazer dinheiro. A mulher negra está nos seus vídeos, fazendo danças eróticas e deitada com eles na cama. Mas raramente como um ser humano completo, dignificado e real.
O corpo da mulher negra é o campo de batalha onde se manifestam as contradições e incoerências do Patriarcado.
Por um lado somos invisíveis, pois nas revistas, na TV e até no mercado erótico, prevalecem as mulheres brancas. Elas são o protótipo de corpo desejável. E por outro lado, as características mais desejáveis são comuns nos corpos de pessoas negras (seios largos; bunda grande; lábios carnudos; etc), mas apenas se estas características forem branqueadas. Até existem produtos dedicados ao clareamento de partes do corpo mais escuras (axilas; cotovelos; mamilos; genitais; etc).
Então as qualidades sexualmente desejáveis são sempre aquelas associadas ao corpo da mulher branca e as características são aquelas da mulher negra.
Numa sociedade que lucra com as inseguranças das mulheres, estar confortável com o seu corpo pode ser revolucionário.
É por isso compreensível que para muitas mulheres negras é na exploração da sua sexualidade que se sentem mais empoderadas, pois é aí que reside o seu valor.
É o caso de Bernice Burgos. Ou, já que falamos nas Kardashians, de Blac Chyna. Ambas são mulheres cuja carreira está intimamene ligada ao imaginário da sociedade no que diz respeito à (in)saciabiliade sexual da mulher negra.
A mulher negra é quente. É sexual. É promíscua. É boa de cama. Estas mulheres correspondem às expectativas do corpo da mulher negra.
Bernice Burgos causou polémica quando visitou Angola. Fonte: Rede Angola
Os espaços de prazer e de desejabilidade não nos são acessíveis, e como tal, precisam de ser criados outros alternativos longe das noções de inferioridade ou estereótipos previamente definidos.
Num mundo em que o corpo da mulher negra é forçado a ser “domesticado” para se assemelhar à mulher branca, uma tentativa de fazer dessa prisão um espaço de empoderamento pode ser libertador para algumas mulheres.
Pouco posso dizer sobre o ano que nos despede, e menos ainda sobre o ano que se aproxima. Deixo por isso estes 5 livros que me marcaram muito em 2016, cada um com a sua particularidade mas todos eles especiais e dignos de um espaço nesta lista.
Espero que em 2017 eles tenham o mesmo impacto que tiveram na minha vida, na vida de outra pessoa.
“Com um homem a vida é difícil. Sem um homem a vida é ainda mais difícil”
Esta frase resume bem parte do dilema em que vive Ijeoma: entre viver numa sociedade patriarcal casada com um homem, mesmo sendo infeliz ou viver numa sociedade patriarcal e homofóbica com uma mulher e tentar ser feliz no meio de tanto ódio.
Este livro é um emocionante romance que retrata a vida da jovem Ijeoma, uma menina e mais tarde mulher nigeriana nos anos 70 e 80. Ijeoma vê-se em conflito com a sua religião, a sua família e a sociedade em que vive à medida que vai descobrindo a sua sexualidade.
“Podes cozinhar livros e alimentá-los ao teu marido? Fica em casa com a tua mãe. Aprende a cozinhar e a limpar. Planta vegetais.”
Durante o período pós-colonial no Zimbabwe, Tambu, uma menina de 14 anos, toma posse da sua voz e conta a sua versão dos factos que lhe levaram a libertar-se do fatídico destino de ser apenas mais uma mulher perdida no mato, sem estudos nem profissão.
Mais do que isso, através de Tambu conhecemos outras mulheres, cada uma com uma história para contar apesar das adversidades de um mundo dominado por homens. O livro permite-nos entender e até perdoar as escolhas de todas elas.
“Uma boa mulher é aquela que te cumprimenta vinte vezes se te visse vinte vezes num dia.”
Neste livro, do qual já falei aqui no blog, conhecemos a trajectória de Efuru desde a sua juventude, com o ritual da circuncisão feminina, até ao casamento, a maternidade e por fim a sua resignação face às expectativas da sociedade para com as mulheres.
A tragédia de Efuru é a sua inabilidade de se encaixar no padrão de “Boa Mulher, pois apesar de ser uma mulher carinhosa, prestativa e tradicional, não é mãe.
“Porque nós não estávamos no nosso país, nós não podíamos usar as nossas próprias línguas, então quando falávamos as nossas vozes saíam feridas.”
Darling narra as aventuras dos seus amigos no Zimbabwe, na era pós-colonial. Toda a primeira parte do livro é-nos descrita pelos olhos inocentes das crianças que nada conhecem para além da sua pobreza e miséria.
Posteriormente Darling viaja para os Estados Unidos da América, onde espera viver longe da tristeza, choque e terror do seu país, no entanto percebe que o sonho americano não passa de uma fantasia e é obrigada a enfrentar a dura realidade de ser imigrante.
“Uma mulher sem o seu próprio lar e família é uma mulher sem amarras”
O livro segue três gerações de mulheres indianas, partindo da perspectiva da mais nova a tentar descobrir e perceber a sua mãe, Virmati.
A história é acima de tudo sobre a luta pela liberdade: a descolonização da Índia; a possibilidade de estudo para as mulheres e a vontade de poder ser mais do que a sociedade deixa. Virmati é o centro desta encruzilhada entre a tradição e o moderno; o individual e o colectivo, e o futuro e o passado.
“Por razões que cá eu sei, eu tomo nota da forma como as pessoas se comportam quando estão perto de espelhos.”
Este é um conto de fadas muito peculiar que decorre nos EUA, nos anos 60 quando a segregação racial ainda era uma realidade. Os caminhos de três mulheres se cruzam, num mundo mágico e surreal, em que é impossível escapar ao mundano.
A autora consegue explorar temas como o racismo; colorismo e sexualidade, com uma naturalidade envolvente.
Este ano o Nobel não atribuiu nenhum prémio a mulheres. Nem a pessoas negras. Nem tão pouco a pessoas Africanas.
Os poucos prémios que vão tradicionalmente a estes grupos, Nobel da Literatura e Nobel da Paz – já que aparentemente não temos capacidade intelectual e/ou material para produzir inovações técnicas – este ano foram para homens.
A falta de diversidade nas grandes Academias não é novidade.
No início do ano, durante os Óscares houve um boicote pela falta de representatividade de filmes e actores negros nas nomeações. A campanha #OscarsSoWhite desencadeou um debate sobre a falta de diversidade da Academia e das histórias premiadas.
O que acontece é que a premiação de um determinado grupo valida a produção feita por esse grupo e o seu prestígio, possibilitando mais produção. Isto gera um ciclo vicioso em que o mesmo grupo tem sempre oportunidades de crescimento e financiamento para levar à frente aos seus projectos – sejam no cinema; na literatura; na medicina ou em qualquer outra área de intervenção.
Aumenta-se assim o desnível entre esse grupo privilegiado e os restantes que não conseguem ter os prémios como reconhecimento da sua excelência.
Este ano, numa decisão arrojada, o Prémio Nobel da Literatura foi para Bob Dylan, músico e liricista conhecido pela natureza poética das suas canções. Este foi provavelmente o prémio mais comentado de 2016.
Bob Dylan foi o escolhido para o Nobel da Literatura 2016. Fonte: Nobel Prize
Bob Dylan, ao contrário do que se tem vindo a dizer, não é o primeiro liricista a ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Em 1913, Rabindranath Tagore, poeta, escritor e liricista indiano levou o Nobel da Literatura.
À semelhança de Dylan, Tagore aprendeu muito do seu ofício sozinho. A sua obra influenciou e foi influenciada pelo movimento pacifista na Índia e a sua independência. Embora o Nobel tenha vindo como reconhecimento pelo seu trabalho como poeta, escritor, dramaturgo e romancista, ele escreveu mais de 2000 músicas. Três dessas canções foram usadas para os hinos nacionais da Índia, Bangladesh e Sri Lanka.
Mas Bob Dylan foi premiado justamente pela sua contribuição a nível musical.
Ainda que discorde da atribuição do Nobel a Bob Dylan, tenho de admitir que premiação de alguém que foge à norma daquilo que é um Nobel da Literatura, de certa forma alarga os horizontes para outros artistas que contam as suas histórias de outras maneiras.
Artistas como Youssou N’Dour (Senegal) ou Miriam Makeba (África do Sul) são dois exemplos de músicos com uma forte componente literária e cujas carreiras foram para além da música, marcadas também pela intervenção social que poderiam facilmente ter um Nobel da Literatura para si.
São artistas que conseguiram, tal como Bob Dylan, incorporar um estilo literário nas suas canções, sobretudo devido à longa tradição oral que há em África.
Miriam Makeba ficou conhecida internacionalmente como “Mama Africa”
Os nossos melhores contadores de histórias nunca publicaram livros, mas deixaram um vasto legado de lendas e epopeias fantásticas, muitas vezes cantadas que foram passadas de geração a geração.
Arrisco-me a dizer que as nossas melhores obras de Literatura jamais serão escritas. Ou talvez, as versões escritas dessas obras jamais serão tão boas como aquelas ditas.
As palavras ditas têm uma dimensão maior, de preservação de sabedoria e de ligação com os antepassados ao mesmo tempo que se interage com a plateia, no Presente. As palavras ganham mais poder com voz.
Foram os contadores de histórias anónimos na História, porém conhecidos entre nós – os nossos avós; mães; tios; médicos tradicionais; líderes comunitários; professores – que sedimentaram as bases para artistas como Wole Soyinka (Nobel da Literatura em 1986) e Chinua Achebe (autor de Things Fall Apart) desenvolverem o seu talento, passando para o papel toda a herança de provérbios, fábulas e lendas milenares.
Achebe, considerado por muitos como o Pai da Literatura Africana, nunca ganhou o Nobel. Até à sua morte, os africanos esperavam ver o prémio nas suas mãos, no entanto ele sabia que o Nobel tinha tanto a ver com talento, como tinha com geopolítica:
“My position is that the Nobel Prize is important. But it is a European prize. It’s not an African prize … Literature is not a heavyweight championship. Nigerians may think, you know, this man has been knocked out. It’s nothing to do with that.”
A minha posição é que o Prémio Nobel é importante. Mas é um prémio Europeu. Não é um prémio Africano… Literatura não é um campeonato de boxe. Os nigerianos podem pensar, sabe, este homem foi derrotado. Não tem nada a ver com isso.
De facto, o Nobel é um Prémio Europeu. Este ano, dos 11 vencedores, apenas três são de fora da Europa: Bob Dylan, Nobel da Literatura, é dos Estados Unidos da América; Yoshinori Ohsumi Nobel da Medicina, é do Japão e o Nobel da Paz, Juan Manuel Santos é colombiano.
O queniano Ngugi wa Thiong’o era a aposta africana para o Nobel da Literatura 2016. O autor de 78 anos é um ícone literário, cujo trabalho está intimamente ligado à sociedade queniana pós-colonial e aos conflitos entre as tradições africanas e os costumes ocidentais.
Devido às fortes reacções ao seu trabalho, já foi preso político e viveu exilado por mais de 20 anos. Foi nesse período que mais se debateu com questões de identidade e de resistência ao Imperialismo, o que o levou a decidir, no fim dos anos 70 a parar de usar o Inglês e passar a usar Kikuyu, a sua língua materna, para escrever.
Pela relação difícil no seu país de origem, Thiong’o nunca foi premiado no Quénia. Mesmo na região da África Oriental não existem prémios literários e no geral, pouco foi o reconhecimento dado pelos africanos. Dos dez Doutoramentos Honorários que tem, apenas dois são de Universidades africanas: Universidade de Dar Es Salaam (Tanzania) e Universidade Walter Sisulu (África do Sul).
Seja como dramaturgo ou romancista, Thiong’o incorpora os elementos da tradição oral africana e demonstra qualidades de um exímio contador de histórias: provocante; actual; envolvente; original e expressivo.
Se tivesse ganho o Nobel este ano Thiong’o seria, depois de Naguib Mahfouz que escrevia em Árabe, o segundo autor a ganhar um Nobel da Literatura com obras escritas primeiramente numa língua africana e o primeiro na categoria “dialectos” africanos.
Mas talvez África precise de ser a primeira a reconhecer e premiar Thiong’o pelo seu talento, pela sua sua visão e pelo contributo para o desenvolvimento de uma consciência cultural e moral africana. Só depois disso podemos exigir mais dos outros.
Não nos podemos isentar da luta pela resistência à hegemonia das línguas europeias. Que sejamos nós os promotores de produções nas nossas línguas e sobre as nossas histórias.
Alek nasceu e cresceu no Sudão e até aos seus 8 anos viveu em paz. No entanto, momentos de conflito se fizeram sentir e a sua família foi obrigada a sair da vila de Wau. Primeiro caminharam durante 2 semanas até uma aldeia remota no interior do país, e mais tarde partiram para a cidade de Cartum até que por fim deram por eles em Londres, na Inglaterra.
Alek começou a carreira de modelo aos 19 anos.
Nos anos 90 Alek fez muito sucesso, não só na Inglaterra, mas também no resto da Europa e Estados Unidos da América. Por ser uma modelo com uma tez tão escura e traços tão peculiares, distinguia-se das restantes e marcava a diferença.
Numa passagem, a modelo explica como a narrativa da sua vida por vezes era deturpada para apelar à glorificação do seu sofrimento e da sua Africanidade, rejeitando a sua verdadeira história.
Eu reparei que frequentemente os jornalistas gostavam de dizer que eu tinha sido descoberta ‘no mato’, em África. Como se eu tivesse sido uma inocente primitiva descalça na floresta quando o agente me resgatou e domou, sem destruir a minha beleza ‘selvagem’. Eu trazia jeans no Palácio de Cristal quando fui ‘descoberta’. O arbusto mais próximo era uma azaléia bem cuidada. Eu sou Africana, mas não sou primitiva.
É o que acontece muitas vezes com as nossas histórias. As histórias de África e de africanos.
A narrativa contada muitas vezes é uma visão deturpada ou incompleta de quem somos. Aliás, no próprio livro a modelo conta como no início teve de fazer trabalhos em que a sua imagem era demasiado exotificada, como no calendário do café Lavazza em 1997 (imagens abaixo).
Alek lutou para vencer esses obstáculos. Para destruir essas barreiras e desconstruir preconceitos.
Procurou fazer amizades com fotógrafos e marcas que a viam como algo para além de uma cara “exótica” com feições diferentes daquelas a que estavam acostumados.
Aos poucos, e à medida que foi ganhando fama, conseguiu trabalhos mais relevantes e através destes mudou a forma como as pessoas olhavam para si.
Alek Wek foi a primeira negra na capa da revista Elle, em 1997.
Para outras mulheres negras, refugiadas ou não, sudanesas ou não, Alek Wek era um espelho que reflectia a imagem que tinham de si mesmas.
A atriz Lupita Nyon’go numa entrevista afirmou que o facto de ver Alek Wek na passarela e em revistas, fê-la reconhecer a sua própria beleza.
Oprah Winfrey, numa entrevista a Alek Wek no seu programa televisivo, disse:
Que diferença isso teria tido na minha infância se eu tivesse visto alguém que se parecesse consigo na televisão.
Por muito que possamos – e devamos – criticar a indústria da moda, é inegável o impacto que muitas destas caras têm no nosso dia a dia.
Os anúncios que fazem e as marca que representam servem de padrão para muito do nosso consumo.
Quando se fala em representação da mulher negra, fala-se sobretudo da mulher negra que não é vítima. Que não é sofredora. Da mulher negra digna de amor e paixão. A mulher negra que também pode ter um artigo de luxo. Que pode ir à Universidade.
A mulher negra que, tal como Alek, pode passar por momentos difíceis e alcançar o sucesso.