Imagina nascer, crescer e viver toda uma vida sendo bombardeada com mensagens violentas sobre o seu cabelo, a sua aparência, os seus traços, a sua forma de ser e tudo o que você representa.
Na série “Violências Diárias” pretendo retratar um pouco dessas vivências.
Desde pequena que a minha mãe sempre cuidou do meu cabelo. Era ela quem me fazia as tranças e embora eu me lembre de muitas vezes sentir dor, de um modo geral gostava desses momentos em que ela tratava de mim, tocava o meu cabelo, me penteava e me acariciava.
Com o tempo, fui querendo experimentar mais e aí comecei a frequentar salões de beleza. Acho que foi no início da adolescência, eu gostava de tranças mais elaboradas, muitas missangas e a ilusão de cabelo comprido (leia-se liso).
Deve ter sido nessa altura que passei a prestar mais atenção nos cabelos das outras pessoas e a querer o que elas tinham. O cabelo que voa, o cabelo que pode ser molhado sem nenhum problema, o cabelo que não precisa de muitas horas no salão de beleza, o cabelo que é perfeito tal como é, o cabelo que existe sem precisar de manipulações.
Então lá fui eu entregar-me de corpo e alma aos padrões eurocêntricos. Tentei e tentei, mas o meu teimoso cabelo sempre crescia da mesma forma carapinhada. Eram mais horas no salão de beleza. Mais cuidados com o cabelo. Mais precauções. Mais restrições.
Depois desse período de subjugação da minha raiz e dos meus fios aos agressivos tratamentos químicos, decidi deixar o meu cabelo simplesmente ser. Simplesmente ser, tal como ele é e sempre foi.
Mas não deixo de observar, ouvir e notar como essa mesma pressão persiste até hoje. Está em todo o lado: nos nossos salões, nos pentes que nos são vendidos, nas imagens dos produtos capilares disponíveis, nas capas de revistas, na Televisão e até nas pessoas que mais admiramos.
É violência. Diária.
É sim, é uma violência que graças a Deus tem reduzido e muito. Hoje em dia entro nas redes sociais e vejo limdas celebridades que me representam com cabelos iguais aos meus, com a pele negra igual a minha e nossa! Isso faz toda a diferença.
Embora a pressão ainda exista, ela tem perdido espaço e uma nova contrucção de beleza tem surgido.
Cada mulher que assume a sua natureza e a encara como beleza é parte dessa mudança que impactua não só a nós, jovens e mulheres crescidas mas principalmente as crianças.
É verdade, felizmente já vemos mais exemplos… Mas ainda assim não podemos afirmar que vencemos a guerra. Ainda somos atacadas com os mesmos padrões eurocêntricos todos os dias… Como disseste, essa nossa mudança vai inspirar outras mulheres e crianças a assumirem o seu cabelo natural.