O Museu do Apartheid é dedicado à história do regime segregacionista sul-africano que durou de 1948 a 1994.
Apartheid literalmente significa “separação” ou “estar separado” e durante décadas o Partido Nacional da África do Sul implementou políticas para garantir a separação de raças no país, hipotecando as vidas de todos os não brancos.
Na bilheteira ao comprarmos um bilhete somos atribuídos um título: Black (preto) ou White (branco) e devemos entrar para o museu pela porta indicada para a nossa raça.
Só isso só mostra o quão forte foi o Apartheid e como presente ele estava em todos os momentos da vida quotidiana dos sul-africanos.
Não visitem o Museu do Apartheid.
Não bastassem os números, a legislação e estatísticas disponíveis ao longo de todas as salas, o Museu traz ainda histórias reais de pessoas ‘anónimas’ que viveram os traumas e as opressões do regime do Apartheid.
São essas histórias, acompanhadas muitas vezes de fotografias e objetos pessoais que dão uma cara, um elemento humano à chuva de informação a que somos expostos.
Não fossem essas pessoas e as suas pequenas revoluções diárias, seria muito difícil compreender o quanto o Apartheid afectou e limitou o futuro das gerações que hoje vivem na África do Sul.
Visitar o Museu do Apartheid é abrir a porta para o desespero, raiva e medo em nós.
Eu chorei.
Chorei quando li o poema “A Human Being Died That Night” de Pulma Gobodo-Madikizela. Chorei ao ver um trecho do depoimento de Winnie Mandela aquando do seu julgamento na Comissão da Verdade e Reconciliação. Chorei ao ver fotos do Soweto Uprising e ler mais sobre os sacrifícios que os jovens fizeram para ver uma África do Sul livre.
Chorei mesmo.
Não visitem o Museu do Apartheid.
Pelo menos não o façam sem terem pelo menos 2h para de facto se entregarem à obra extraordinária e muito bem conseguida que todo o museu é.
Para além de uma extensa exposição sobre Nelson Mandela, desde a sua entrada no ANC até à chegada à Presidência, o Museu conta com uma exposição permanente de Ernest Kole, fotojornalista sul-africano cujo trabalho foi banido na época.
Ernest Kole, para além de ter registado em imagens importantes momentos da vida da população negra na África do Sul, fez também questão de escrever várias notas, ensaios e depoimentos.
Visitar o Museu do Apartheid é fazer uma viagem pelos dramas e dilemas da vida num sistema extremamente opressor. Através de fotos, relatos, vídeos, textos e objectos, somos convidados – convidados, não – convocados! a questionar e perceber como essas estruturas e categorias se alteraram e ao mesmo tempo, perpetuaram.
Se existem fantasmas – e eu acredito que eles existam – o fantasma do Apartheid certamente frequenta aquele lugar. É um edifício sombrio, sóbrio, gigante e pesado, um pouco como o Apartheid… acredito.
Não seria justo nem correcto dizer que este Museu é bonito. Museu do Apartheid bonito? Não, obrigada. Este Museu é horrível, brutal e violento.
Não visitem o Museu do Apartheid!