Na semana do 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, lembro-me do legado deixado pelas mulheres enteadas da História.
O dia 8 de Março é celebrado por todo o mundo como uma ocasião para lembrar o porquê das mulheres existirem e a sua importância na vida quotidiana. A data está ligada ao movimento sufragista do séc. XIX e ao movimento operário feminino do séc XX.
Por estas alturas no Ocidente se a mulher branca, de classe alta se sentia oprimida, a cidadania plena da mulher negra era virtualmente inexistente. Em larga escala o papel da mulher negra ainda era de servidão: fosse num sentido micro, como escrava doméstica ou num sentido mais amplo, na medida em que viva sobre o domínio do colonialismo europeu.
Não obstante, várias mulheres negras quebraram essas barreiras e fizeram as suas contribuições para o fim do sexismo e do racismo no mundo.
Huda Shaarawi
Fundadora do Sindicato Feminista Egípcio e do Sindicato Feminista Árabe, Huda Shaawari foi uma líder feminista egípcia.
Ainda jovem Shaawari abriu uma escola para educar outras meninas a escrever e ler com várias línguas, como ela tivera oportunidade de aprender, e a adquirir competências para além daquilo que era permitido às meninas na época.
Depois da morte do seu esposo, ela optou por abandonar o uso do véu, algo que causou choque e descontentamento na sociedade. Mas este simples acto iniciou um verdadeiro movimento.
O seu activismo também esteve ligado com o movimento nacionalista egípcio contra a ocupação britânica.
Funmilayo Ransome Kuti
Não haverá lista sobre mulheres africanas importantes contemporâneas sem o nome de Funmilayo Ransome Kuti da Nigéria. Depois de ser criada no regime britânico, Funmilayo foi estudar em Londres, de onde regressou com mais vontade e motivação para retornar às suas raízes tendo abandonado por completo o seu nome inglês.
Fundou o Sindicato de Mulheres de Abeokuta em 1944, juntando donas de casa, académicas, comerciantes e pequenas empreendedoras para a defesa dos direitos políticos, sociais e económicos das mulheres. Este grupo chegou a ter perto de 20 000 membros a trabalhar activamente para a defesa dos seus direitos. O seu maior feito – para além claro de ser mãe de Fela Kuti – foi ter conseguido através do trabalho do sindicato a demissão do rei Ladapo Ademola II.
Yaa Asantewaa
Nas artes da guerra – e do amor – os africanos, ao contrário do que se aprende na escola, já tinham técnicas e estratégias mesmo antes dos europeus invadirem as suas fronteiras.
A rainha Yaa Asantewaa do povo Edweso de Ashanti (actual Gana) foi uma monarca que no início do séc. XX liderou um exercito de 5000 soldados contra as forças coloniais britânicas de modo a conseguir a independência da região.
Apesar da derrota, a coragem e liderança da rainha levaram a um movimento forte do seu povo contra as forças coloniais. Até hoje vários monumentos são erguidos em sua homenagem e ela permanece como uma figura importante da luta de libertação do Gana, o primeiro país africano a ter a sua independência.
Nehanda Nyakasikana
As superstições e a espiritualidade são elementos fortes da identidade africana. A base do pensamento espiritual e até mesmo da religião parte desse entendimento do mundo como algo holístico – físico e sobrenatural.
A figura de Nehanda Nyakasikana representa o casamento desses dois mundos. Ela foi uma líder espiritual e médica tradicional da Rodésia (actual Zimbabué) que teve um papel central na primeira guerra de libertação contra as forças coloniais britânicas entre 1896-1897.
Ao seu capturada pelos seus inimigas, ela profetizou que o seu espírito iria liderar uma segunda guerra de libertação. E foi nesta segunda guerra de libertação que o Zimbabué se tornou independente. O seu nome é o símbolo da força das crenças tradicionais africanas.
Wangari Maathai
Vencedora do primeiro Prémio Nobel da Paz dado a uma mulher africana, Wangari Maathai foi galardoada pelo seu empenho como activista ambiental.
Fundadora do Movimento do Cinturão Verde em 1977, a queniana encorajou o envolvimento de mulheres no combate à desflorestação e lutou para proteger o direito à terra. Consciente de que o problema do ambiente envolvia questões de paz e direitos humanos, ela começou por combater o abuso de poder e as licenças de terra ilegais.
Mesmo com poucos recursos, pouco apoio e uma forte oposição, ela conseguiu gerar impacto através das alianças com organizações não-governamentais a nível regional e internacional.
No total já são mais de 50 milhões de árvores plantadas e milhares de famílias protegidas como resultado do seu trabalho.
Todas estas mulheres de alguma forma foram negadas pela História. Seja pela sua condição social, pelo que fizeram, por onde vêm mas sobretudo pelo que representam.
Representam possibilidades que uma sociedade patriarcal e racista não pode aceitar. Representam oportunidades da quebra de papéis de género e de raça. Põem em causa tudo aquilo que nos querem fazer acreditar que nós mulheres não podemos ser nem fazer.
Representam-me.
ótimo artigo! É preciso estar sempre lembrando, num mundo machista como a nosso, a força e a importância decisiva da mulher na sociedade atual e em todas as culturas já existentes. Parabéns!