Etiqueta: viagem
Lições de Outono
Coisas que aprendemos ao observar as folhas cair.
Nas manhãs frias e nubladas de Berlim, em que as folhas caíam sobre o ritmo frenético do vento, acordar era um sacrifício. E que sacrifício!
Mas deliciava-me ficar, aquecida na minha cama, a olhar para a janela de onde era possível ver o abanar das folhas e das árvores consoante a vontade do vento.
Da janela dava para ver as folhas nas suas danças constantes. Umas, de tão embaladas pelo sopro, deixavam-se cair e beijavam lentamente o chão húmido. As mais resistentes agarravam-se à árvore com toda a esperança de ali permanecer, embora soubessem que a altura delas caírem também chegaria em breve.
Essa é a primeira lição: saber esperar. Mesmo vendo a folha vizinha a cair, as outras folhas não corriam para o precipício. Pelo contrário, algumas até pareciam ficar mais atentas para ver o destino daquela que se deixava levar de forma a fazerem a escolha mais consciente.
Já no chão, as folhas caídas formavam tapetes ora laranja, ora castanho, interrompidos por algumas poças de água, que em conjunto davam outra cara aos passeios. Mesmo deitadas, no chão, sem vida, as folhas continuavam a dar o melhor de si, acarinhando-se umas às outras e aos pés que as iam pisando.
Lição dois: Mesmo no chão, nunca perder a essência de quem somos. Aproveitar a queda para aprender sobre humildade e amar quem está connosco.
Depois, reparei também que algumas árvores já se viam nuas, mas as outras não se deixavam despir. Cada uma se revelava consoante a sua vontade, no entanto a força aplicada sobre elas pelo vento era igual. E os galhos mais teimosos, ainda exibiam folhas verdes, poucas, mas persistentes enquanto outros, já quase só tinham folhas amarelas, castanhas ou mesmo folha nenhuma.
Terceira lição: Devemos tirar as partes de nós consoante o que nos deixa mais confortáveis, independentemente daquilo que é a pressão externa.
Tanto podemos aprender com o Outono. O Outono é a primeira linha na testa; o primeiro fio de cabelo branco; o primeiro sinal da idade. Mas é também o início da renovação, é aquela etapa dolorosa, mas necessária para o crescimento.
Drummond de Andrade disse “Repare que o Outono é mais estação da Alma que da Natureza”.
Não há ser que resista ao ar reconfortante do Outono. Ele diz-nos:
“Não há problema nenhum em deixar parte de nós morrer”
“Não há problema em deixar parte de nós cair”
Escolher o Terceiro Mundo
Por que muitos de nós voltaram e alguns nem sequer partiram?
Quando dizemos que somos de um país do Terceiro Mundo, parece que as perspectivas e expectativas que as pessoas têm para nós se fecham.
Primeiro vem a piedade. Apesar de essa denominação ter mudado para “países em desenvolvimento”, ambos os conceitos carrega consigo o mesmo estigma e miséria. Depois da piedade vem a pergunta “E como é viver aí?” ou pior “Por que é que vives aí?”
Por mais estranho que pareça, ainda que haja oportunidades para sair, há quem queira ficar. Ou quem saia e regresse – como eu.
Viver no Terceiro Mundo é diferente de viver no Primeiro Mundo. Essencialmente viver num país em desenvolvimento significa que temos as nossas opções mais limitadas.
Os elementos fundamentais para a sobrevivência de uma determinada comunidade, tais como água; comida; roupa; educação; saúde; electricidade; etc são mais escassos. Também não temos infraestruturas que facilitem a distribuição destes bens, criando um fosso entre as zonas que têm os recursos e aquelas que não têm.
Para além disso, geralmente os países do Terceiro Mundo são famosos pelos altos níveis de corrupção e falta de transparência (e competência) das lideranças.



Apesar dos problemas de acesso à saúde; da escassez de boas opções de escolas; e das péssimas condições urbanas, de habitação e saneamento, eu adoro a vantagem de poder sorrir, abraçar e conversar com virtualmente qualquer pessoa, adoro a força e perseverança das pessoas ao meu redor e do sentimento de conquista global quando um único indivíduo se sai vitorioso.