Ponte minha

Ponte minha,

De ti quero apenas os abraços apertados dos reencontros.

Traz-me boas notícias sobre os teus ombros erguidos,

Nesses braços longos que a todos aperta.

 

Katembe de lá, daqui

Mais perto dos meus olhos.

Deixarei no mar as manhãs longas em fila para chegar,

Mapapai gelados da cacimba matinal,

Terei saudades, mas vou deixar.

 

Ponte minha,

De ti quero só os beijos da Baía

Nos fins de tarde alaranjados de Sol e Lua sobre nós.

De mãos dadas seguir e amar-te até ao meu fim.

 

Katembe hoje e amanhã,

Darei os passos necessários para te descobrir.

Maputo ontem e hoje,

Estarei mais perto para te ver sorrir.

Eliana, da próxima, beija-me

 

Quero um beijo teu na minha boca como o primeiro.

Eu mandei fazer um beijo teu na minha boca. Como aquele beijo pedido, entregue, partilhado. Um beijo sem pressa nem atraso.

Quero guardar para sempre a memória daquele beijo bonito que me deste. E dormir embalada no som dos nossos lábios a dancarem em sintonia. Eu acompanho o teu ritmo e tu segues a minha pegada.

Tu és a música e o pé. O chão e o compasso.

Todas as cartas de amor são 
Ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
Ridículas. 

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras, 
Ridículas. 

Quero dar-te os meus lábios como um navio para as tuas palavras mais silenciosas navegarem, e e nesse mar sereno mergulharem.

Darei também as ondas calmas da maré baixa para sossegar os teus medos. E de ti levarei o Sol para secar todas as lágrimas desse mar salgado da minha boca.

Nesse beijo vamos guardar todos os nossos segredos.

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser 
Ridículas. 

Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor 
É que são 
Ridículas. 

 

Antes que a memória daquele beijo me escape, quero-o outra vez. E outra vez. E todas as vezes até perder a conta.

Quero o teu beijo como uma brisa leve logo de manhã para me acordar. Como a sombra de uma árvore a tarde, para me acalmar. Como a sinfonia dos animais a noite, para me embalar.

Quero o teu beijo sempre. Mesmo quando estás ao meu lado e eu me esqueco que os teus lábios não são meus.

Quem me dera no tempo em que escrevia 
Sem dar por isso 
Cartas de amor 
Ridículas. 

A verdade é que hoje 
As minhas memórias 
Dessas cartas de amor 
É que são 
Ridículas. 

Seremos o nascer e o por do nosso próprio Sol.

Quero me perder nas horas quentes dos dias a amar, em amor.

Nos beijos húmidos esquecer o ritmo do vento, o som das folhas no chão, os passarinhos a comerem fruta, os peixinhos na corrente dos rios, os apressados urgentes nas suas saudades; esquecer os dias frios da tua ausência e toda a vontade que eu tinha de te beijar.

Quero um beijo teu na minha boca como o primeiro.

(Todas as palavras esdrúxulas, 
Como os sentimentos esdrúxulos, 
São naturalmente 
Ridículas.) 

Lições de Outono

Lições de Outono

Coisas que aprendemos ao observar as folhas cair.

Nas manhãs frias e nubladas de Berlim, em que as folhas caíam sobre o ritmo frenético do vento, acordar era um sacrifício. E que sacrifício!

Mas deliciava-me ficar, aquecida na minha cama, a olhar para a janela de onde era possível ver o abanar das folhas e das árvores consoante a vontade do vento.

Da janela dava para ver as folhas nas suas danças constantes. Umas, de tão embaladas pelo sopro, deixavam-se cair e beijavam lentamente o chão húmido. As mais resistentes agarravam-se à árvore com toda a esperança de ali permanecer, embora soubessem que a altura delas caírem também chegaria em breve.

Essa é a primeira lição: saber esperar. Mesmo vendo a folha vizinha a cair, as outras folhas não corriam para o precipício. Pelo contrário, algumas até pareciam ficar mais atentas para ver o destino daquela que se deixava levar de forma a fazerem a escolha mais consciente.

Já no chão, as folhas caídas formavam tapetes ora laranja, ora castanho, interrompidos por algumas poças de água, que em conjunto davam outra cara aos passeios. Mesmo deitadas, no chão, sem vida, as folhas continuavam a dar o melhor de si, acarinhando-se umas às outras e aos pés que as iam pisando.

Lição dois: Mesmo no chão, nunca perder a essência de quem somos. Aproveitar a queda para aprender sobre humildade e amar quem está connosco.

Depois, reparei também que algumas árvores já se viam nuas, mas as outras não se deixavam despir. Cada uma se revelava consoante a sua vontade, no entanto a força aplicada sobre elas pelo vento era igual. E os galhos mais teimosos, ainda exibiam folhas verdes, poucas, mas persistentes enquanto outros, já quase só tinham folhas amarelas, castanhas ou mesmo folha nenhuma.

Terceira lição: Devemos tirar as partes de nós consoante o que nos deixa mais confortáveis, independentemente daquilo que é a pressão externa.

Tanto podemos aprender com o Outono. O Outono é a primeira linha na testa; o primeiro fio de cabelo branco; o primeiro sinal da idade. Mas é também o início da renovação, é aquela etapa dolorosa, mas necessária para o crescimento.

Drummond de Andrade disse “Repare que o Outono é mais estação da Alma que da Natureza”.

Não há ser que resista ao ar reconfortante do Outono. Ele diz-nos:

 

“Não há problema nenhum em deixar parte de nós morrer”

“Não há problema em deixar parte de nós cair”

 

 

 

The taste of love

As I kiss your skin

seasoned with my salty sweat

I can’t help but wonder

Which spices have brought you here?

What flavours have you tasted like?

The smell of your love on me

fills me inside

like a waterfall

waiting to start

running from its rage

 

Give me a spoonfull of your destiny

So I can delight myself

with your sweet eyes

every day

every night.