Em todo o mundo homens heterossexuais matam as suas parceiras em nome do amor.

A jovem Katabo Mokoena, sul africana de 27 anos foi encontrada morta, com o corpo totalmente desfigurado, após 10 dias de busca.
A sua cara foi desconfigurada com ácido, e logo a seguir, o seu corpo foi incendiado com o auxílio de um pneu. O seu namorado confessou ter mutilado o seu corpo, embora negue o assassinato em si.
Segundo fontes, ele era um moço do bem, bastante simpático que tinha conquistado até a confiança da família.
No entanto, quando estavam apenas os dois, ele era um homem abusivo, e que a própria namorada já tinha aberto queixa contra ele.
Na África do Sul o risco de feminicídio é dos mais altos do mundo. É o quarto país do mundo em que as mulheres estão mais vulneráveis a serem assassinadas.

Os índices de feminicídio em todo o mundo são assustadores.
Em Moçambique no ano passado, dois casos chamaram a atenção do público em geral à problemática da violência doméstica. Foi o ataque sofrido por Josina Machel, onde a vítima perdeu a vista no olho direito e o assassinato de Valentina Guebuza nas mãos do seu marido.
Este ano, a violência doméstica em Moçambique assumiu outra cara ao se popularizarem casos de mulheres que mataram os seus parceiros. Mas estes casos são de longe marginais, quando analisamos o grande volume de casos em que as mulheres são as vítimas.
Embora seja pertinente apontar a masculinidade tóxica como o ponto central para a problemática e aliarmos isto ao contexto social em que vivem muitas famílias moçambicanas, é igualmente importante falarmos do nosso conceito de amor.

No seu livro “Vivendo de Amor”, bell hooks argumenta que não temos uma definição saudável de amor. Existe uma confusão entre amor e fraqueza; atracção sexual; possessão enquanto na verdade para haver amor, é preciso honestidade; respeito mútuo, cuidado e compromisso.
Nesse sentido não pode haver verdadeiramente amor num contexto de poder, pois para tal tem de haver submissão de uma das partes. E quando uma das partes é submissa, a possibilidade de se tratarem como iguais termina.
Para mais, a autora defende que o amor deve ser uma escolha.
Em relações de família, amizade, o amor deve ser voluntário e não uma obrigação. Mas pelo contrário, desde a nossa infância somos condicionados a “amar” as pessoas do nosso meio, seja por gratidão ou laços sanguíneos.
Muito do desespero que juventude sente a respeito do amor, vem da crença que eles estão a fazer tudo certo, mas o amor ainda não aconteceu. O esforço para amar e ser amado produz stress, conflito e descontentamento perpétuo. – bell hooks
E porque o nosso conceito de amor está intimamente ligado a esse esforço e a essa impaciência, olhamos para as nossas relações como formas de tapar os nossos vazios e alimentar o nosso ego.
É daí que vem também o sentimento de posse de outrém, que uma vez perdido, procuramos atirar a culpa a factores externos sem reconhecermos o nosso papel e o acordo estabelecido entre as duas partes.

Na cultura pop, seja em músicas ou em filmes, é-nos alimentada essa imagem que prescreve os papéis de cada um dentro de uma relação romântica. Especialmente quando se tratam de relações heterossexuais.
Segundo esse ideal, o homem é o conquistador e a mulher a conquistada. É o homem quem detém o poder e ela que se submete ao poder dele.
Estes padrões, quando aliados a outros factores já mencionados e discutidos, como o conceito de masculinidade e o desamparo social, cria condições férteis para o estabelecimento de relações tóxicas, nada saudáveis, marcadas por disputas entre as partes para haver um dominador e um dominado.
Ninguém mata por amor. O que mata é o poder.