Um recente espectáculo gratuito de violência nas escolas foi distribuído, via redes sociais para todo o Moçambique. Qual é a resposta do Ministério da Educação?
Não é surpresa a inexistência de segurança no Ensino Público, mas um caso de esfaqueamento filmado e reenviado vezes sem conta desperta qualquer sociedade. Ou pelo menos devia.
O vídeo, que mostrava dois rapazes numa Escola Secundária a lutarem, ambos a sangrar, ganhou atenção especial por um deles ter sido esfaqueado sem que nenhum professor, guarda ou qualquer outro funcionário do recinto percebesse o que estava a acontecer no momento do incidente.
As deficiências; carências e lacunas do nosso Ensino Público já são por todos nós conhecidas: falta de infraestruturas que promovam o bem-estar do estudante; condições estéreis para o nascimento de ideias e mentes brilhantes; sobrelotação das salas de aula; falta de manuais escolares; escassez de professores; desistência por parte dos alunos; reprovações em massa; etc etc etc.
O cenário é tenebroso. Catastrófico.

O Ministério da Educação parece não saber bem por onde pegar. Está mesmo complicado!
No início do ano lectivo, numa tentativa de resgatar a honra e valores de outrora, S. Excia. Senhor Ministro decidiu implementar a obrigatoriedade do uso das maxi-saias.
A medida tem como intuito melhorar o ambiente de ensino e repor a decência nas salas de aula. Ou, por outras palavras, vem devolver ao professor a sua inocência e impedir as meninas de serem violadas – sim, porque a culpa é delas.
Agora enfrentamos outra crise – dentro de todas as outras crises (as mencionadas e as ocultadas): violência nas escolas.
Quando meninas começaram a aparecer grávidas nas escolas encaramos isso como um problema nacional. Aquilo foi um vuku-vuku jamais visto! Primeiro começou-se por tirá-las do curso diurno. Depois veio essa das saias até aos calcanhares.
As pessoas saíram à rua. Gritaram. Manifestaram-se (ou quase isso). Escreveram contra e a favor. Por causa das saias até houve quem fosse deportado de Moçambique.
O Senhor Ministro até já estava cansado de proteger os pedófilos que andam aí disfarçados com batas brancas como se estivessem a ensinar – até porque há um problema de quadros, não podemos mandá-los embora.
Enfim o Senhor Ministro lá geriu a situação e agora vem esta!

Dois rapazes foram filmados por outros colegas numa luta violenta da qual um saiu esfaqueado e apenas um dos envolvidos foi expulso e preso (supostamente). O outro certamente também irá tirar contas com a Justiça em tempo útil.
Aguardo ansiosamente a próxima medida do Senhor Ministro.
Já não se fala de um problema de dimensão nacional, embora vários alunos tenham assistido (e até divulgado) o vídeo com conteúdo extremamente violento.
Embora a escola tenha várias pessoas dotadas de poder e competências para impedir que tais episódios aconteçam.
Embora não só naquela escola, mas em todas haja episódios semelhantes diariamente.
Embora a violência seja um problema de todos nós, encaramos o ocorrido como uma manifestação isolada de um possível problema mental, familiar ou social dos envolvidos, falhando na nossa análise.
Esquecemos que a violência e a criminalidade sempre fizeram parte do nosso Ensino Público: as reguadas do professor da Primária; os roubos de canetas, livros, telemóveis e até mesmo mochilas; os abusos de bebidas alcóolicas e estupefacientes; as violações sexuais; os pagamentos para passar de classe; etc.

O Senhor Ministro tem uma batata bem quente nas mãos!
Pouco se falou ou discutiu a reabilitação destes meninos. Pouco ou nada se decidiu no que toca a medidas para garantir mais segurança aos alunos nas escolas. Ninguém se pronunciou sobre o controle de instrumentos cortantes nos recintos escolares.
E porquê? Porque vemos a violência masculina como um problema individual. É um assunto de interesse privado, que diz respeito apenas aos envolvidos e às suas famílias. Enquanto olhamos a sexualidade feminina como algo de todos. É um assunto de interesse público no qual ~devemos~ opinar.
Resultado: Obrigamos as meninas a usarem saias compridas para acabar com a gravidez na adolescência, mas expulsamos um rapaz da escola para acabar com a violência nas escolas.
O Senhor Ministro está mesmo mal!
É a cultura da violência; a cultura do estupro; a cultura do deixa-andar… A cultura de tudo menos do estudo e da dedicação. Menos da leitura e da investigação. Menos da segurança; da qualidade e do rigor.
E agora Senhor Ministro?
Não vi nada no escrito que tenha haver com o ministro nem alguma proposta para mitigar evitar violência na escola. Qual será mesmo a magoa da Eliana?
Caro João, todos os assuntos referentes ao Ministério da Educação têm a ver com o Ministro da Educação. Os órgãos do governo, escolhidos pelo Presidente eleito têm por dever salvaguardar os interesses de todos os cidadãos. Como cidadã tenho o direito (e dever) de fazer as análises que achar pertinentes e levantar questões, mesmo que não tenha resposta para as mesmas. Acredito que se cada um de nós exercesse a sua cidadania de forma activa chegaríamos a várias formas de solucionar os nossos problemas. Eu posso não saber tudo, mas certamente expressando as minhas preocupações irei encontrar outros cidadãos que poderão dar também as suas contribuições.
Magoa-me pensar na insegurança em que vivem os alunos. Magoa-me também pensar nos pais que, sem condições para mandar os filhos para as escolas privadas, não têm outra opção se não a de confiar nas escolas públicas. Magoa-me pensar também nas meninas que mesmo de saias compridas serão assediada e quiçá até violadas.
A minha pergunta para si é, como pode o João encarar estes e outros problemas de forma tão passiva? Por que é que o João não está magoado?