Ultimamente tenho refletido sobre a retórica do “aconteça o que acontecer” no contexto de relações. Essa retórica basicamente é uma afirmação de compromisso, seja entre amigos, amantes, etc. significa que “aconteça o que acontecer” eu estarei lá; “aconteça o que acontecer” nós continuaremos ligados, que tudo vai ficar bem.
Mas enfim, nós sabemos que isso não é verdade. Cenas acontecem. Cenas horríveis, cenas dolorosas, cenas difíceis de superar. E relações acabam. As pessoas afastam-se.
O problema com essa retórica é que presume que independentemente da situação, a relação está num patamar acima. Como se estivéssemos a assumir que já não há desafios, que essa relação não pode mais ser destruída – isto não só é errado, como é perigoso.
É errado no sentido em que encaramos a outra parte como algo garantido. Assumimos que aquela pessoa estará sempre lá, pois afinal de contas “aconteça o que acontecer” ela estará sempre ao nosso lado, pronta para perdoar e seguir em frente como se nada tivesse acontecido.
É também perigoso, porque ambas as partes estão a dizer que não há limites para as coisas erradas que podem vir a acontecer. Estamos a destruir os nossos limites pessoais. Estou a abdicar do meu poder, do meu sentido de segurança e auto-cuidado, e em troca estou a invadir o espaço de outra pessoa. Isso faz sentido?
É um conceito tão distorcido. Não é possível, a partir desse princípio, construir uma relação saudável. Ou é?
Como proteger o nosso sentido de pessoa própria, a nossa integridade pessoal, numa relação em que não há limites?
Não sei se é possível termos em nós um lugar bonito para receber amor e afecto, quando esse lugar pode facilmente ser invadido e vandalizado.
Então, quando dermos por nós a dizer que iremos estar sempre do lado da pessoa em qualquer circunstância, lembremo-nos dos nossos limites, dos nossos valores e da base sobre a qual queremos viver a nossa vida. E talvez, enquanto fazemos esse exercício, tenhamos também de avaliar que espaços temos ocupado sem permissão, que lugares desvalorizamos?
É sem dúvida uma lição para vida nos dias que correm. Aprendi
Obrigada.
Foda. Pensei que ia ser outra coisa quando cliquei no Facebook. Espaço seguro é o que criamos para nós mesmos. É fundamental saber disso. E é claro que a lógica diz que é possível que cada um se respeite em conjunto. Menos claro é o percurso dessa escolha…
Verdade. Acho que é um processo em constante evolução, mas é importante estarmos cientes disso, desses limites, ainda que eles mudem com o tempo.
Uma reflexão muito profunda sobre relacionamentos, adorei ♥ o amor é uma construção e é absurdo pensarmos que se pode consolidar de qualquer maneira.
Confira tambem meu post novo, acho que vai gostar. Um beijo! ♥
( https://bloggentefazendolivro.wordpress.com )
Oi Clara. Tudo bem? Muito obrigada. Vou lá espreitar sim.