“The 40 rules of love” é uma obra para quem se interessa por espiritualidade, muito mais que religião e procura em si razões para acreditar em algo maior, numa força capaz de mudar o rumo das nossas vidas. O amor.
Para os mais distraídos este livro é apenas a interpretação sufista do amor. E embora o Sufismo seja uma peça fundamental para o desenrolar da história, não é, de todo o porquê de ela existir.
Certamente, para os praticamente do Islão, o livro terá um sentido mais íntimo. Repleto de referências corânicas, o livro é para muçulmanos, critãos, budistas, agnósticos e até mesmo ateus.
Dois tempos se cruzam: por um lado o séc. XXI e a vida perfeita de uma mulher casada com três filhos, num subúrbio norte-americano. Ella, a mulher, à beira dos 40 anos e submersa numa vida cheia de futilidades mas sem sentido. E por outro lado, Shamz of Tabriz no séc. XIII e a busca por um aprendiz, que encontra em Rumi, o famoso poeta sufi.
Não nos deixemos enganar, este livro é sobre o amor nas suas mais diversas formas.
Para além da óbvia ideia romântica do amor, que a Disney nos vendeu a infância toda, a autora consegue explorar com sucesso todas as formas de amor à nossa disposição que poucas vezes nos atrevemos a aceitar por medo: o amor aos nossos pais e irmãos; a Deus; aos nossos amigos; às nossas experiências; etc.
O que mais me surpreendeu foi forma tão crua e quase sensual em que Shamz of Tabriz e Rumi se envolveram. Ambos dependiam um do outro. Eram almas gémeas, nas suas próprias palavras.
Um amor puro e inocente. Um amor que despertou em Rumi o poeta que havia em si.
Dois homens completamente apaixonados pelo conhecimento e sonhos que partilhavam. Uma amizade tão forte que despertou sentimentos de vergonha, ciúmes e raiva por parte de quem via o seu envolvimento.
E estes sentimentos negativos, alimentados por dogmas, evidenciam o perigo de violência face à liberdade, ao amor e à vida. Através destes episódios, a autora desafia quaisquer verdades absolutas que possam estar enraizadas na nossa forma de ver o mundo.
Outro aspecto interessante foi a forma como o amor na família de Ella era quase inexistente entre as pessoas. A mãe que desconhecia os filhos. Os filhos que desconheciam os pais. O casal que não se reconhecia.
Não podia haver amor, pois eles estavam demasiado presos àquilo que deveriam ser. À ideia de família perfeita que queriam manter, mas que não correspondia à realidade. Uma família ligada por laços de sangue e conveniência, mas não por amor.
Isso Ella encontra por acaso num estranho, por acaso (ou não) à distância de uma ligação à internet. E com todas as consequências iminentes, ela arrisca-se a amar.
Só uma coisa é certa na vida: a morte. E o livro ilustra esse fim perfeitamente, desde o início
O amor que partilhamos permanece no mundo dos vivos, sobrevive-nos.