No filme “Felicidade por um fio” (Nappily Ever after) Violet Jones assume o seu cabelo natural no meio de uma crise pessoal
A história de Violet Jones, retratada por Sanaa Lathan começa num escritório daquilo que parece uma prestigiada agência de publicidade.
Ela é uma mulher preta linda, bem sucedida e com a vida organizada. Vive um relacionamento estável com um moço igualmente bonito e ambicioso. Tudo parece perfeito – e aí reside o problema.
Violet é escrava dessa perfeição. Todos os seus passos são milimetricamente calculados. O namorado não pode tocar no seu cabelo. Ela acorda mais cedo que ele, para que ele nunca a veja despenteada. A sua casa, cheia de móveis brancos, reforça essa ideia pelo seu aspecto clínico.
Mas a sua vida perfeita exige dela demasiado esforço, o que gera bastante ansiedade. Como muitas mulheres, Violet sente que não basta ser só bem sucedida e ter um relacionamento bom, ela tem de se casar e tem de estar sempre bonita, enfim, deve ser a mulher perfeita.

Essa pressão social no filme é representada pela mãe – uma mulher preta também – o que para mim foi um problema. Achei desnecessária a constante vilanização da mãe e acho que se perderam oportunidades para oferecer compaixão à mãe que, como mulher negra também enfrentou vários preconceitos e desafios para se aceitar e para criar a filha para ser a mulher de sucesso que é.
No entanto, a mãe aparece quase sempre infeliz com as decisões da filha e querendo impor as suas vontades e crenças.
“Felicidade por um fio” parece um filme de Tyler Perry: storyline relativamente simples em que a vida da mulher começa com uma tragédia que a obriga a emancipar-se, e essa mesma mulher apenas mais tarde realmente se cura ao encontrar o amor e aceitação de um homem. Ou seja, mulheres fortes são na verdade mulheres traumatizadas que precisam de um homem para aceitarem o seu lado mais frágil.
No caso de Violet, o momento decisivo foi uma sucessão de acontecimentos infelizes: término do namoro; perda de uma conta importante na empresa e um acidente num salão de beleza que danificou o seu cabelo.
Num acto espontâneo de loucura e rebelião, Violet decide rapar o cabelo. Inicialmente Violet é bastante insegura quanto ao seu novo visual, e procura esconder-se por detrás de turbantes até que conhece um novo moço que, auxiliado pela filha pequena, ajuda-a a aceitar-se tal como ela é.

Para desafiar os clichês do plot, a directora Haifaa Al-Mansour, poderia ter dado à protagonista a oportunidade de cortar o seu cabelo de forma consciente, em vez de trazer essa consciência depois – poupando também o homem (!!) disso. E adicionalmente, em vez de encarregar o homem da responsabilidade de validar a decisão da Violet (e educá-la!), essa tarefa podia ter recaído sobre as suas amigas.
Aliás, na vida real é a rede de outras mulheres que passam/ passaram por experiências semelhantes que tem mais impacto no processo de auto-aceitação.
Em suma, acho o filme muito raso nas suas provocações e observações. Dentro do estilo comédia romântica segue a típica linha do “tudo está bem quando acaba bem” e que o amor supera tudo e todos, e como um filme de elenco maioritariamente preto classe média alta nos EUA, tirando o facto de tratar de assuntos capilares, não desafia noções previamente existentes no que tange a relações mãe e filha; mulher negra no mercado laboral e relacionamentos heteronormativos entre pessoas pretas.