Relembrando Kimpa Vita, profetisa africana do Reino do Kongo, assassinada no séc. XVIII pela Igreja Católica
Kimpa Vita nasceu no Reino do Kongo, filha de uma família nobre e foi baptizada ainda pequena como Beatriz.
Desde a sua infância que apresentava sinais de ser uma pessoa especial e foi treinada como Nganga Marinda, uma curandeira capaz de curar com o poder das plantas e comunicar com o mundo espiritual.
Ainda jovem, começou a frequentar os cultos de Mama Mafuta, uma mulher mais velha, que também profetizava que se tornou sua mestre.
Num dos seus primeiros milagres, Kimpa Vita morreu e ressuscitou. Ao acordar, disse ter conversado com Deus e recebido uma missão: Acordar o povo do Kongo, unir o povo do Kongo e reconstruir a cidade de Mbanza Kongo. Como parte dessa missão, Kimpa deveria também abençoar um rei escolhido pelo povo do Kongo.

O Reino do Kongo estava a ser ocupado por Portugal e no início do séc. XVII houve muitas guerras entre as duas forças.
Numa das guerras entre o reino do Kongo e Portugal, após a morte do rei Vita manda, o reino dividiu-se em dois, cada um liderado por uma ala da família real: Reino dos Kdompetelo e Reino dos Ndozuao.
A estrutura do reino do Kongo tinha o poder político bastante centralizado e por isso ambas alas disputavam o trono.
Ao mesmo tempo, Portugal solidificava a sua presença no reino e com isso, impunha também a sua religião.
O povo do Kongo era um povo muito ligado às suas tradições e à sua Filosofia, pelo que a Igreja Católica teve um papel importante no seu desmoronamento. Com o fim do cultos aos antepassados e com a separação do reino, o reino fragmentou-se.
O tráfico humano para a escravatura era um dos resultados das múltiplas guerras, pois os povos conquistados eram muitas vezes vendidos. Uma vez que a venda dessas pessoas trazia grandes lucros, as guerras nunca terminavam, criando assim um ciclo vicioso.
No séc. XVII a região do Kongo (actual Angola) era um dos maiores fornecedores de pessoas para a escravidão. Milhares de pessoas eram traficadas para o Brasil, Suriname e Estados Unidos da América.
O desafio de Kimpa Vita era acabar com a guerra civil e reerguer o Reino, encontrando um rei capaz de manter essa união.

Depois da Batalha de Mbwila, em 1678 a cidade de Mbanza Kongo foi abandonada.
A cidade tinha – e até hoje mantém – um valor simbólico muito grande. Era lá onde estavam enterrados os falecidos reis e onde se localizava também a catedral. A reocupação de Mbanza Kongo representava por isso a restauração do reino do Kongo.
Kimpa começou a pedir a muitos dos seus seguidores para retornarem à capital original do reino e assim, a partir de 1705 a cidade passou a ser habitada novamente.
Até então era uma zona interdita às populações africanas.
Kimpa Vita resgatou o orgulho do povo do Kongo profetizando em Kikongo.
Reinterpretou a Bíblia, fazendo de Jesus um homem negro e disse que Deus falava com ela em Kikongo. Segundo ela, Mbanza Kongo era a antiga Jerusalém onde teria nascido Cristo e todos os profetas eram do Kongo.
Kimpa Vita se opôs à idolatração e adoração dos Santos Católicos e das imagens ocidentais promovidas pela Igreja Católica. Defendia o uso dos nomes originais do povo do Kongo, razão pela qual o seu nome de baptismo, Beatriz, nunca foi aceite por ela.
Profetizou também que, caso o povo do Kongo se convertesse ao Catolicismo acabaria dividido e ocupado, até desaparecer completamente para todo o sempre.

Kimpa Vita foi bastante perseguida, especialmente pela Igreja Católica que gradualmente ocupava um lugar importante no poder político à medida que Portugal solidificava a sua presença no território.
Sofreu várias ameaças, até mesmo no seio do seu povo devido à conjuntura da época. As diferentes alas em disputa pelo trono temiam o seu poder, tendo em conta a sua influência na época.
Aproveitando-se disso, a Igreja Católica acusando-a de heresia e feitiçaria, queimou Kimpa Vita viva em 1706.
O seu legado como uma mulher que lutou pelas injustiças do regime colonial e a perseguição religiosa que sofriam todos aqueles que não seguiam o Catolicismo mantém-se vivo até hoje.